quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Doçaria noturna

Já ouviu que está "pegando alguém" pelo estômago? Para quem era analfabeta culinária há pouco mais de um semestre, é uma promoção ao status "posso usar isso como arma de conquista afrodisíaca". Antigamente para isso acontecer, só participando de autópsia no IML. Há dois dias comecei um bolo diet de saquinho da marca Vilma, de coco, mas personalizei bem: ao invés de água coloquei suco de laranja, acrescentei canela, leite de soja que imita o condensado e macadâmia(estou apaixonada por ela). Mas como o processo precisou ser interrompido pois tinha esquecido do RPG e que a culinária é uma arte que precisa ser feita em slow motion, fiz uma pesquisa de opinião se deixava esperando na geladeira ou na pia. Por unanimidade, a misturinha foi para dentro da Consul. Quando voltei, reforcei o fermento, aumentei a temperatura do forno que é bem desregulado e ontem também fiz meus colegas de trabalho começarem bem, pois clap, clap, clap! Deu certo e reconheceram a canela! O amigo arco íris também repetiu, o que me deixou bem lisonjeada: ele tinha exame no dia seguinte e achou que valia esperar até onze da manhã para dar o tempo do jejum. Uia! Nunca antes na história desse país esta gourmet natureba improvisada passou por essas...
Fazia dias que estava com uma ideia de doce vegano na cabeça, mas não estava encontrando um dos ingredientes puro: o cupuaça sempre estava à venda com o raio do leite condensado que é indiscutivelmente bom, mas me dá cólica. Vá lá, anteontem no auge de um bate-boca com o "pé no peito que me gerou", fiz igual criança quando achei a pasta desta fruta à venda na entrada do Heliópolis:
- Cupuaçu!
Apesar dos bate bocas à toa, ele parou para eu comprar, consegui barganhar um pouco, ele ainda tentou puxar mais uma briga que tinha sido caro, mas foi vencido pela minha súbita capacidade de negociação na lojinha. E ontem encontrei o caro mas maravilhoso creme de avelã com alfarroba (o chocolate engana trouxa da Carob). Esta plantinha em barra meu amigo multicor não aprovou no finde, mas ontem bati 600 gramas de cupuaçu com 150 de avelã com alfarroba. Tem que ajudar o liquidificador, já que a consistência deste segundo ingrediente definitivamente é anti social e se recusa a misturar rapidamente. Mas ficou fodástico! Desculpem o termo, mas não encontrei outro. E não provoca cólica de intestino em quem não se dá com leite e derivados! Meu primeiro doce sem nada animal! Misturar depois com o bolo foi um capítulo à parte. Hoje meti esta "nutela natureba" no pão de milho do café da manhã e "fui até Vênus agradecer a Deus e voltei". Se fosse você inventava umas coisas assim e compartilhava também pois dá um "orgulhozinho" de ver nossa criações assim, fazendo os outros lamberem o beiço...
Estou numa semana bastante inspirada: também besuntei umas castanhas carameladas que comprei por engano na zona cerealista (ao contrário de mim, confira o que pediu, pois as vendedoras ficam "fora da casinha" com tanta circulação de vegetarianos e veganos por lá), cobri com Nutela (esta ganhei da mãe que se recusa a aceitar que lácteos me provocam cólica, fez até menos chantagem quando tirei a carne, mas dizem que cortar leite é desamarrar o cordão umbilical e elas se indignam mais), polvilhei com canela e meti no forno. Além do cheiro ficar hiper convidativo, consegui zerar o pacote destas castanhas que sem nada eram intragáveis.
Tenho bolado umas bebidinhas também, como este resto de suco de laranja com leite de soja e canela, que ficou bom, mas também se recusava a fundir num líquido só: é que não estou dando conta de lavar o liquidificador tanto quanto estou criando audaciosamente na cozinha e cismei de juntar no braço com a colherzinha. Memórias ancestrais da mãe, tias, avós... Inovando, pois elas sempre usavam o que estou tirando né? São passos quase "metidos a besta" de minha parte. Vou aproveitar para contar de outras que "mirabolei" tempos atrás...
Teve uma experimentação curiosa de quando soube que o restaurante Broto de Primavera, na São Joaquim (que a propósito, é muito bom e tem preço honesto) vende uma mistura que tentei em casa, mas não sei bem o que faltou: café com açaí (não tente isso à noite se é elétrica como eu, pois não rolará sono por horas e horas).
Não lembro se adocei com mel ou açúcar orgânico, mas preciso comparar na prática com o deste restaurante para descobrir se minha boca detecta como aprimorar este super energético. Fica uma bebida roxinha: a "criança feliz" aqui achou bonita. Experimentações entre quatro paredes e sem testemunhas, pois antes a gente vê se dá para encarar para depois "socializar". Só ultimamente tenho dado uma de atrevida e chamado para criar e conferir o resultado junto. Mas acho que esta é a graça né? Tirar sarro quando não sai a contento e se lambuzar quando funciona, pois fiquei com dó quando gemia comendo sem companhia: é preciso testemunhas!
Esta nem precisa adoçar: é café com frapê de coco de soja. Acho a glória: o segundo colabora para melhorar o primeiro (pois minha relação com o energético é mais emocional que genuína preferência: lembra ir com meu avô à máquina de café do norte do Paraná, que já tinha cheiro de terra vermelha e chuva, mas quando os grãos eram moídos, a fusão dos três cheiros tinha qualquer coisa de mágico e poético - na época nem "mamava" café que era nova demais para isso). Valeu para ficar um pouco mais ligada sem zoar o estômago - como se precisasse colecionando insônias criativa!
Não lembro se já postei esta, mas é simplezinha, outros veganos já devem ter experimentado: tchai com leite de soja e Stevia. Fica leve e tem um prazer de bebidinha "nova" recém descoberta. Mata remotamente a saudade do "delicinha" do Gopala, na Augusta com a Antônio Carlos, onde já "iniciei" vários amigos, parentes e parceiros no viciante método de por mais tempero que comida na hora de produzir os pratos. Meu pai não curte, mas ele é "inagradável": também reclama que o que minha mãe faz não tem gosto e nos últimos dias discutimos pela enésima vez que o pesto feito pela hermana postiça que ele encarou só estava bom por ter mais manjericão que agrião e azeite (a amigona personalizou com castanha), mas ele acha que não, mesmo com o azedo da folha indo para o espaço depois de batido (só que o "drama que me gerou tem razão" - ele só comeu e gostou por minha sister ter feito, se fosse meu ia chiar, que é um clássico, mas relevemos estas pendengas familiares, que são matéria prima de outro post, em outro blog).
No domingo fiz torta com massa folhada da Arosa recheada com berinjela, abobrinha, azeite, palmito, cogumelo, espinafre, manteiga indiana embaixo para não grudar e temperei com pitadas de pimenta rosa, zathar, manjericão, salsa, alho granulado, gersal, ervas finas, Sabor a Mi azeite e ervas (pois sempre fico cabreira que ficará sem gosto, é trauma) acrescentei quinua e folha de louro. Não fotografei pois já deve ser a terceira que faço e até na época em que era analfabeta culinária dava certo, então...
E você, o que tem inventado e lambido a ponta dos dedos por aí?

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